Revelação

Capitulo XV

***

Sem que eu pudesse dizer mais nada o “Arqueiro” bateu com o arco na minha fronte me levando ao desmaio imediatamente. 

= "Que calor surpreendente"! 

Pensei ao acordar... Ouvi gorjeio de pássaros, mas certamente pássaros não adentrariam ao átrio do palácio de Hesmar. então me veio a feliz ideia  de que lá não haveria pássaros circulando pelos palácios como na minha querida "Avebury". Nem haveria o forte cheiro do Hidromel que sempre pairava no ar. Por ser a bebida servida ao povo elfico e pelas confecções do mesmo. Muito menos o aroma insubstituível da doce e resinosa madeira dos pinheiros que queimavam nas fogueiras ao anoitecer enquanto dançávamos e ouvíamos os bardos tocarem seus alaúdes. Eu pensei:

= "Estou em casa"  

Mas estava com medo de terminar de acordar e perceber que estava sonhando. Era só olhar para cima que eu identificaria onde estava. Mas eu adiei aquele momento... Eu estava deitada sobre algo confortável, só podia ser o palácio do meu pai. Nada me doía! Eu sentia só um leve formigamento nos pés e mãos. Com certeza pela pancada que atingiu meu nervo central. Apenas aproveitei aquele momento de paz. Eu sentia-me tão bem que me veio um pensamento de repente me causando grande calafrio: 

= “Eu posso estar morta! Então é assim estar morta”? 

- Não adianta me enganar! Eu sei que voce está acordada! 

Eu abri os olhos! Parecia a voz de Hesmar, mas soava como se tivesse dificuldade para formar as palavras. 

= ” Um estrangeiro”! - pensei 

Levantei um pouco a cabeça e... Estava deitada embaixo de uma árvore. Os galhos da mesma arqueavam-se sobre mim como uma cúpula. O “Arqueiro” estava de joelhos ao meu lado e apalpava minha testa com mãos fortes. Os galhos alcançavam a cabeça dele ocultando seu rosto sob uma dança de sombras e luz. Fechei os olhos e abri novamente várias vezes, tentando vê-lo melhor. Havia algo que me intrigava! As sombras giravam em torno do rosto dele como se quisessem encobri-lo intencionalmente. 

= Onde eu estou? - perguntei 

- Está segura! 

Respondeu o Arqueiro que antes eu achava ser meu irmão e naquela hora não conseguia ver seu rosto. Mas o corpo, os movimentos, a maneira de agir eram idênticas as de Hesmar. Tentei me levantar e percebi com muita ira que estava amarrada pelos pés e mãos rente ao solo e só conseguia erguer a cabeça. Por isso o formigamento

= O que voce pretende fazer comigo? Por que me feriu e por que me prendeu? 

Vi entre as sombras os olhos dele lampejarem, me assustando. Ele falou tropeçando no seu idioma: 

- Quando Aikin a tiver curado voce poderá partir. Eu não confio em voce. Por isso achei prudente prendê-la. Foi Aikin quem insistiu que cuidássemos da sua ferida. 

Fiquei olhando para ele sem dizer nada, estava intrigada e ao mesmo tempo achando engraçado o barulho que ele fazia ao falar. Como se soubesse o que se passava na minha mente ele falou: 

- Por que está me olhando assim? O seu idioma dá nós na minha língua, ele é feio. 

= Não! Não é! Onde está o Rei? - Perguntei 

- De que Rei voce está falando? O cavaleiro que estava com voce? Quando ele interceptou minha flecha ele não parou, continuou em disparada e como seu cavalo estava quase ao lado do dele, talvez tenha pensado que voce estava montada. 

= Ele estava comigo quando voce me acertou com o arco. 

- Não havia ninguém com voce. Voce saltou do cavalo girando por cima dele e eu fui até voce para não permitir que fugisse. Eu estava disposto a mata-la, mas Aikin achou melhor feri-la a mata-la com uma flecha. 

Eu olhei em volta tentando ver o tal de Aikin e não vi ninguém além daquele arqueiro estranho, com o rosto escondido a meia luz parecendo muito sinistro. Eu precisava alcançar meu amuleto no pulso, mas o estrangeiro apertou muito os nós. Não tinha o que fazer a não ser esperar. 
 As folhas começaram a cair dos galhos, parecendo outono, quando elas caem sem vento. E balançante elas vieram chegando perto, até caírem ao meu lado e sobre mim. Eu olhei para cima para a copa da árvore, e vi que estávamos embaixo de um carvalho, que as folhas brilhavam em tom verde primavera. O cheiro em volta era de húmus, terra preta, mas também de algo em decomposição. 
Um raio do sol atravessou a copa diretamente em minha mão, eu segui o raio dourado e pude ver surpresa, que o que me mantinha presa; eram as raízes do carvalho, que haviam enlaçado meu pulso. Eram raízes grossas seguidas por uma delicada teia de raízes esbranquiçadas, de onde saiam o cheiro de decomposição que eu senti. Essas raízes esbranquiçadas estavam transformando-se em adubo. Tentei erguer-me forçando contra as raízes, mas eram muito fortes. Pareciam correntes de ferro, não cedia um milímetro e meu amuleto estava preso embaixo delas... 

= O que está acontecendo? 

- Aikin está curando voce guerreira! Sua morte era certa, ele ordenou que eu a trouxesse para cá. 

= Onde está seu amigo? 

O “Arqueiro” apontou para cima para a árvore e disse: 

-Aikin está pagando alto preço para manter-te viva, quando eu a feri com meu arco, voce caiu sobre um conjunto de “Actaea” e seu envenenamento foi quase que imediato, no músculo cardíaco humano ela causa morte rápida. Voce estava totalmente roxa. Aikin está acabando com a sua intoxicação e tentando devolver a sua carne cor de pétalas de rosa. 

= Onde eu estou? Não reconheço esse carvalho. 

- Voce está onde seus Deuses não tem mais poder. Talvez eles mesmos tenham atirado voce através dos portais. Voce deve tê-los aborrecido. 

= Portais? 

- Sim quando voce saltou do cavalo girando e passou pelo círculo de pedras, atravessou os portais. Voce agora está nas terras de Adryel! 

Eu fiquei muito assustada. Mallos recomendou que eu não atravessasse os portais quando estivesse em “Anatólia” porque quem atravessa os portais é amaldiçoado. 

= Porque Aikin está me ajudando? 

O “Arqueiro” ficou um tempo em silêncio, enquanto eu me esforçava para ver seu rosto. Com certeza o que protegia o “Arqueiro” do meu olhar era um feitiço. Ele enfim respondeu: 

- Aikin deve achar que voce é importante. Algumas raízes de Aikin são muito velhas e profundas. Talvez tenham conseguido atravessar até o mundo dos Deuses e o Aikin sabe de voce guerreira. Ele está sacrificando boa parte de suas energias para retirar o veneno de voce. 

= Como assim sacrificando? 

-Não percebeu ainda? Aikin está absorvendo seu veneno e repondo seiva da vida em voce. Está sofrendo no seu lugar guerreira. Desse dia em diante voce terá a força de um carvalho, não será mais como seus parentes humanos. E voce vai.... 

- CHEGA!!!! 

Ouvimos uma voz aguda que interrompeu o que o “Arqueiro” ia dizer. E ao lado deles vindo de trás do carvalho surgiu uma criatura fantástica deixando-me perplexa... Eu nunca tinha ouvido falar de alguém como ele. Tinha o corpo musculoso, o rosto emoldurado por uma barba que caia no peito nu  em cachos castanhos aloirados, os cabelos em uma grande e grossa trança jogada de lado, ela passava da cintura onde... Crescia abaixo do tronco as pernas de um animal de pelos castanhos e patas com cascos. Tinha um cordão de ouro na testa. Trazia uma aljava de flechas e no ombro esquerdo um arco de caça, ele tinha grandes e belos olhos castanhos amendoados que olhavam profundamente em meus olhos me fazendo desviar o olhar. Eu diria que era um imponente guerreiro, não fosse o corpo de um animal... 

O “arqueiro” levantou-se e cumprimentou a criatura. 

- Bem vindo papai! O que veio fazer aqui 

- Voce demorou e eu sabia que estavas junto a Aikin. Quem é essa humana? 

= Sou Surya filha de Mothar o Rei “Ljosalfr” de Avebury! 

- Avebury é do outro lado dos portais. Como chegastes aqui? 

= Foi um acidente Senhor! 

- Eu causei o acidente Papai! Eu iria mata-la, quando ela atravessou por acidente ao girar no ar, ela é uma humana e estava muito perto dos portais com outro guerreiro. Atirei minhas flechas e errei os dois. Eu causei a vinda dessa humana dos Deuses a nosso mundo. 

- Voce a feriu de morte? 

Não papai! Mas ela caiu entre as “Actaeas” e estava morrendo... 

O “Arqueiro” parou de falar com o p ai e olhou para o carvalho dizendo: 

- Sim Aikin! 

Nesse momento eu senti a força férrea das raízes afrouxarem até eu estar completamente livre. Apalpei minha fronte e a ferida havia se fechado. Eu estava apenas um pouco tonta e percebi isso quando me levantei e fui cambaleando para esquerda... Sentei novamente estiquei as pernas e esperei um pouco para levantar outra vez. Depois levantei cuidadosamente sendo amparado pelo pai do “Arqueiro” coloquei meus pés descalços naquele chão macio de floresta e pensei: 

= "Eu fui trazida da morte depois de ter sido envenenada por “Actaeas” isso só pode ser mágica. E mágica poderosa".

Meus passos estavam firmes me aproximei do grande carvalho que possuía séculos de idade, ajoelhei-me respeitosamente encostei a testa na sua casca irregular e grossa! Eu estava emocionada diante de uma árvore com poderes mágicos pela qual o “Arqueiro” sem rosto tratava com muito respeito com se ela fosse seu "Rei". Eu disse emocionada.

= Agradeço Senhor Aikin! Devo-lhe a minha vida! 

Eu agradeci com todo meu coração, mas mesmo assim era muito triste agradecer para aquele que salvou a minha vida com um nada como promessa de voltar e homenageá-lo com muitas pompas! Procurei algo que solidificasse minha intenção. Rasguei a parte de cima da minha armadura e amarrei em um dos galhos mais baixos. E disse: 

= Senhor “Arqueiro” em qualquer tempo se precisar de mim enviem um mensageiro com essa peça das minhas vestes, que eu juro pela minha vida, e pelo meu sangue impregnado de seiva desse carvalho, de que eu virei. Esteja eu onde estiver. 

Ouvi um ruído como o ranger de galhos e ergui os olhos, no momento em que uma bolota “fruto do carvalho” se soltou e ao cair tocou meu ombro direito, caindo depois sobre as folhas que serviram de leito para mim. O “Arqueiro” a pegou e disse: 

- Leve-a com voce! Aikin raramente dá presentes. Ele aceitou seu juramento. Guarde com muito carinho esse presente que pode ser um tesouro. 

- Que tesouro Adryel? Tesouro que cresce todos os outonos nos galhos de Aikin aos montes. Tesouros que esquilos enchem suas barriguinhas 

Disse a criatura e eu retruquei. 

= Senhor! Por favor! Respeite o senhor Aikin! 

- Deixa ele humana. Papai tem razão sobre os esquilos e eu tenho razão sobre o tesouro. 


- Para onde voce vai Surya dos “Ljosalfr”

= Voltarei para “Anatólia” meu Rei deve estar a minha procura com todo exército. Sou o capitão dos arqueiros e estamos em guerra. 

- “Anatólia”? Rei? 

Sim o Rei Hesmar de “Anatólia” Nós estamos em guerra com “Atêmi”! 

Os dois se olharam surpresos e o pai do “Arqueiro" falou: 

- E o Cardeal? Ele foi quem começou a guerra? 

= Como sabe disso? 

- Porque ele sempre atazanou as nossas vidas. O Cardeal pensa que o meu filho está morto. Ele tentou mata-lo e Aikin o salvou por ouvir minhas preces desesperadas de pai. Por isso meu filho tem esse poder de entender Aikin como ninguém. 

= Qual é o seu nome senhor? Ainda não tive o prazer de sabê-lo. 

- Meu nome é Frithu sou um Sátiro! 

Ao ouvir o nome Sátiro eu olhei imediatamente para seu baixo ventre que até então não havia percebido, por causa dos seus pelos castanhos em abundancia. Ele tinha seu membro em riste e bastante grande que alcançava seu quadril do lado esquerdo. Foi então que percebi, porque ele olhava tão profundamente. Os Sátiros olham dessa maneira para manter um contato com alguém do sexo oposto que eles queiram harmonizar. Olhei novamente para os olhos dele e perguntei: 

= Senhor Frithu porque o Cardeal queria matar seu filho se voces são de mundos diferentes? 

- Surya dos “Ljosalfr” Adryel é filho do Rei Áureo! Gêmeo com o Rei Hesmar de “Anatólia”!

Eu fiquei tonta e cai sentada sem forças nas pernas. E Adryel falou: 

- Foi por isso que voce a Salvou Aikin? 

Não ouvi resposta e levantei a cabeça para ver o que estava acontecendo... Diante de nós estava um espirito Dríade macho gigante... Ele foi diminuindo até ficar da nossa altura mais ou menos. E disse: 

*= Não exatamente por isso Adryel meu amado filho!

- O que então? 

*= Ela é filha de “Sunna” A Deusa Sol com o Rei Áureo! Surya é sua irmã Adryel!
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