A Comandante

Capitulo V

***

Ainda estava escuro e os primeiros alvores anunciavam o dia, quando ouvi toques na porta. Remexi-me na cama ainda sonolenta e me encolhi tentando não dar ouvidos, mas uma voz masculina fez com que eu abrisse os olhos espantando completamente o que havia sobrado do sono. Fui atender a porta de camisola e escabelada e quase fui derrubada por Jyann que atravessou o quarto falando como doido:

- Surya! Porque voce ainda estava na cama? Eu sei que voce acorda com as galinhas. Onde voce foi depois que saímos da reunião? Voce me deixou sozinho com o maior pepino da minha vida e sumiu.

= Eu estive...

- Não precisa mentir para mim Elfa! Eu sei que voce esteva na beira do rio. Mas olha, não há mais tempo a perder, a situação é gravíssima. Fiquei de mãos atadas esperando voce voltar. Nunca me vi num aperto tão terrível. Ah! Não acredito nisso voce está enrolada nas cobertas de novo.

Sem nada dizer, eu olhei para ele com uma cara de interrogação. Jyann respirou fundo e perguntou:

- O que voce foi fazer no rio? Pode me dizer? Não me diga que foi pescar.

= Claro que posso dizer! E não! Não fui pescar soldado bobo! Como voce deve saber um caminho sobre as águas do rio que corta uma floresta pode ser bem mais rápido do que um caminho por terra tendo que desviar de árvores, montanhas, pântanos etc... Etc...

- Sim, isso é óbvio. Por quê?

= Fui até a beira do rio levar notícias a meu pai! Pedi as “Paanees” que contasse a meu pai, tudo que está se passando aqui em “Anatólia” e sobre meu cargo no Exército do Rei. Agora me diz qual foi o acontecimento.

- O Rei Hesmar resolveu que vai pessoalmente participar das batalhas conosco.

= O que tem isso demais? Meu pai é um Rei e encabeça todas as batalhas, para defender nosso reinoe como aliado.

 - Não é a mesma coisa Elfa! Eu não sei o que fazer. Ele sempre ministrou sem sair do trono para não deixar a cidade desprotegida. Eu desconfio que isso é obra e arte do irmão mau caráter dele. Desculpa estar falando assim da sua família. Por favor.

Eu abaixei a cabeça e fiquei pensativa por um tempo depois perguntei:

= O Rei está apto a enfrentar uma batalha pela coroa?

- Querida Elfa! O Rei Hesmar nem imagina que está lutando pela coroa. Tudo foi feito por baixo dos panos com a ajuda da mãe dele. Aquela praga fez o Rei pensar que está lutando por “Anatólia” .
Pellor fez tudo de caso pensado e atiçou o Rei Liano das terras áridas além da “Ilha” fazendo-o crer,  que as terras de “Anatólia” pertencem ao reino dele. Acho que fazer com que o Rei vá a batalha é a cartada final de Pellor. Com certeza ele será emboscado e morto. E Pellor irá reaver a coroa que por direito é dele.

= Porque Hesmar não passa logo a coroa para Pellor e acaba com essa guerra.

- Criatura! Acabei de dizer que ele nem sabe disso. Se contarmos a ele, claro que ele não vai acreditar. É o irmão dele.

= Vem cá e fique aí mesmo. Como voce sabe disso? Essa história está muito suspeita!

- Porque meu pai era o tutor dos gêmeos! Quando Pellor completou 16 anos, retirou meu pai do cargo. Ele fez isso de complô com o Cardeal e colocou um amigo do Cardeal que é estrategista de guerra como Tutor... Não sei o que ele alegou para conseguir fazer a mesa redonda crer nele. Meu pobre pai foi quase banido por incompetência e por colocar a vida da Família real em perigo. Sorte dele; é que ele não tinha rabos presos e nem nada à esconder, por isso não puderam expulsá-lo de "Anatólia". Meu pai tenta proteger o Rei como pode, incógnitaSomente o Senhor Tertolo desconfia de alguma coisa, mas não ousa dizer nada. Apenas treina os soldados para que o Rei não perca a guerra. Mas já estamos exausto. É uma guerra corpo a corpo e o Rei fica penalizado em enviar seus homens. Para que voce entenda: Apenas na “Ilha de Anatólia” o tempo parou quando a Deusa não respondeu mais ao “Oráculo” . A sacerdotisa confinou-se de tristeza. Mesmo nos tempos de hoje... Nós continuamos guerreando com lanças, espadas, flechas como os Deuses exigiram. Meu medo é de que Pellor saia da “Ilha” E traga o armamento do mundo fora de “Anatólia” para vencer a guerra... Seremos massacrados. Graças aos Deuses! Ele ainda não teve essa ideia. Bem, é o que desejo de todo coração.

= Façamos o seguinte então! Já que parece que ninguém quer magoar Hesmar vamos deixar que ele vá conosco as fronteiras e nós o protegeremos com a nossa vida.

- Voce acha que conseguiremos?

= Eu nunca penso que não poderei fazer algo até ter tentado. Os dois são meus irmãos! Mesmo que um deles tenha herdado o mau caráter da mãe.

- Herdou tudo da mãe! Até a cor dos cabelos.

= Como assim a cor dos cabelos. O que são cabelos?

- Isso aqui.! – Jyann falou puxando minhas lãs.

= Ah sim! Lãs tem nome cabelo entre humanos? Explica-me melhor.

- Voce e Hesmar são loiros! Possuem esses cabelos dourados, mas Pellor possui cabelos vermelhos como os da mãe dele.

= Mas não são gêmeos?

- Sim, são! Mas acho que deve ser normal. Que gêmeos nasçam diferentes. Além da diferença, Hesmar nasceu doente e foi preciso que a mãe deles ficasse fora de “Anatólia” com os filhos. Para que não tivessem contato com o ar. Hesmar tinha alergia a maresia. O Rei Áureo enviou a família para o campo na Romênia. Quando voltaram os gêmeos tinha 12 meses de vida e Pellor era maior, mais esperto, andava tudo falava algumas palavras e Hesmar continuava de colo, menor e com mais dificuldades em aprender. Eles dois só se compararam após os cinco anos de idade. Talvez por isso o Rei Áureo escolheu Hesmar.

= É, pode ser! Mas agora vamos que preciso me apresentar, já raiou o dia.

- Surya voce já esteve em alguma batalha de verdade?

= Não! Mas meu pai é um guerreiro e me ensinou a ser um também.

- Querida! Os campos de batalha representam um tipo de inferno. Que envolve um trabalho difícil, pesado e de vigor muscular. Se o soldado pretende ter alguma chance de sobreviver, ele precisa ter ombros e antebraços fortes, para conseguir segurar o escudo e girar a espada até o ponto de exaustão. Chegará uma hora que seu pensamento te mandará baixar a guarda. Sem contar que voce precisará ter muita força nas pernas para correr, e também facilidade de travar os joelhos, para assumir uma posição protetora junto aos companheiros que absorverá o choque do ataque inimigo. 
Seus pés precisam ser como garras e se agarrarem ao solo sem se importar quão imensas e grossas são as poças de sangue. E depois disso: girar na dança do assassino. Porque voce tem que ter a consciência de que vai matar para não morrer. Voce estará batalhando em um lugar barulhento, sujo, com sons que te levarão a loucura, com grunhidos de esforço, gritos de ódio, orações aos Deuses, cheiro de podre, gritos de dor. Junto com o som metálico das espadas se chocando, cortando... Matando... Para sobreviver, voce deverá ser capaz de ignorar tudo isso e se focar apenas no adversário a seu redor de igual para igual com ele. Seja ele um vassalo ou um Rei.

Após ouvir tudo que Jyann me disse eu coloquei a mão no ombro dele e disse:

= Vamos Jyann. Meu pai já me ensinou tudo isso! Quando resolvi vir a "Ilha de Anatólia" eu sabia que seria difícil e doloroso além de muito perigoso. Mas mesmo assim eu estou aqui, pronta para salvar minha família.

- Está bem então guerreira! Será como voce deseja. Vamos batalhar por nosso Rei!

Depois da longa conversa, nós fomos nos apresentar ao capitão do Exército de “Anatólia”! O Senhor Tertolo! Ele me fez algumas perguntas que eu respondi sem rodeios. A seguir; eu fui apresentada ao meu pelotão. Percebi que alguns dos soldados não estavam satisfeitos! Não por eu ser uma fêmea, existiam fêmeas no Exército do Rei. Mas por ser uma recém chegada. Eu falei para meu pelotão com a autoridade que me foi concedida no momento que me delegaram o cargo:

= Soldados! Eu sou Surya! E de hoje em diante serei seu comandante! Não pensem que por ser fêmea eu não entre em uma briga corpo a corpo com qualquer um de voces. Exijo respeito, obediência, atenção, e principalmente lealdade. Aquele dentre os que estão aqui ,que não quiserem me obedecer pode sair da formação. Estarei melhor sem voce.

Durante uns dez minutos eu esperei. Ouvi sussurros, murmúrios, mas nenhum quis sair da formação. Eu continuei.

= Pois bem! Nenhum de voces quis sair. Eu não aceitarei deserção! Se depois quiserem sair será sem a cabeça, que eu mesma cortarei com essa espada. Agora prestem atenção:

= O Rei Hesmar irá conosco nessa batalha!

Os soldados começaram a falar uns com os outros, estavam apreensivos... O Rei nunca saiu em uma batalha e se algo desse errado? Era a pergunta que faziam e eu respondi:

= Por esse motivo iremos protegê-lo com a nossa vida! Se fizerem tudo como eu disser nada acontecerá ao Rei. Por isso meu pelotão é o contingente dos arqueiros. Somos responsáveis pela vida do Rei e da família real.

Todos disseram que estava comigo. Pedi que executassem algumas manobras como:

“A parede de escudos”, A formação de círculos estreitos, A pronta artilharia quando eu mandasse que executassem os tiros com seus arcos".

 Após alguns ensaios meu pelotão já conhecia o meu comando fizeram um círculo ficando dentro da parede de escudos, e me deixando no meio montada em “Rocyfer” que sapateava entendendo a precisão dos arqueiros. Eu estava orgulhosa no centro do círculo. Pouco depois apareceu na sacada o Rei Hesmar com suas vestes de guerra e todos colocaram o joelho no chão.  Eu estava emocionada e tinha uma grande vontade de abraçá-lo. Ele se parecia tanto comigo... O Rei pediu que os soldados se levantassem! Disse que ali naquele momento eramos todos iguais e que até mesmo ele receberia ordens do estrategista. Ele fez um brinde "À Nossa Vitória"
 Eu estava temerosa. Porque aprendi a nunca deixar o coração decidir em uma batalha onde eu fosse responsável por vidas que não fosse apenas a minha .
 Eu estava com minhas espadas além do meu arco e como era uma espada cerimonial eu fiz as honras na saída  dizendo.

= VIVA O REI HESMAR DA “ILHA ANATÓLIA”!LONGA VIDA AO REI! AO NOSSO REI!


- VIVA! VIVA! VIVA! VIDA LONGA AO NOSSO REI!

E Fomos render os soldados na fronteira.


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