O Ódio de Keren

Capitulo XIII

***


Antes que eu fosse para “Anatólia” Mallos me contou a história sobre “Ilhas Gêmeas” 

Há centenas de anos atrás, na terceira era chamada “Era dos Deuses” As “Ilhas Gêmeas” eram prósperas e pacíficas. “O Reino de Atêmi” com suas belas florestas e o comércio capaz de chegar além do grande mar nas terras que eram chamadas de “O Reino da Areia”. Igualmente  “O Reino de “Anatólia” com suas lindas Fazendas e vilas de pescadores que era chamada de ”O Reino do Ouro” por ser extraído da ilha, o mais puro ouro das inúmeras minas nas montanhas. “Anatólia” possuía uma economia forte e diversificada. Sem contar que era a ilha preferida dos Deuses. Os dois reinos viviam em equilíbrio até que um dos Reis muito ambicioso desejou unificar as duas ilhas em um só reino. Com isso ele disseminou a ambição aos habitantes, eles esqueceram os Deuses e passaram a querer essa unificação que nunca aconteceu, porque os Deuses não permitiram. Mesmo que as duas ilhas tivessem culturas similares eram diferentes e os habitantes de uma ilha não aceitavam o mandato do Rei da outra. 

Houve retaliação por parte de uma aliança formada por governantes do mundo fora das ilhas. Demorou exatos vinte dias para que “O Reino de Atêmi” fosse derrotado se tornando terras sem lei. O Rei de “Anatólia” compadecido, pediu aos Deus que ajudasse a ilha irmã a se reerguer. Foi quando a “Deusa Sol” enviou incríveis bestas aladas para dizimar toda ilha de "Atêmi". E os habitantes que conseguiram sobreviver recomeçaram do zero, com a ajuda de sua irmã “Anatólia” A “Morada dos Deuses”. A ”Deusa Sol” Escolheu um de seus súditos mais valoroso e o coroou Rei de “Atêmi” O nome dele era "Sandor" Ele foi fiel, sensato e próspero até seu ultimo dia já bem velho. 
O filho desse Rei assumiu com a morte do pai, mas não foi a mesma coisa. Ele aboliu os cultos aos Deuses, as reuniões para pedir ajuda a Sacerdotisa e por último todos esqueceram os Deus... 
E “Atêmi” ficou entregue aos humanos. 
Desse dia em diante, apenas alguns dos habitantes de “Anatólia” continuaram a cultuar os Deuses. Até o dia que minha mãe tornou-se humana para se casar com meu Pai o Rei Áureo de “Anatólia”. Com a ausência da Deusa a Sacerdotisa se confinou e não teve mais reuniões. 

************** 

Hesmar e eu saímos da “Tenda Médica”
 Assim que nós saímos da tenda eu pude respirar direito, porque eu estava com o coração intranquilo pelo que aconteceu a Jax. Caminhamos lentamente até nossa montaria. Com o acampamento silencioso eu podia ouvir os sons da floresta e sentia grande nostalgia. As lembranças relaxavam meus nervos e meus músculos tensos. A manhã havia despontado sem maiores problemas. O Cardeal não se arriscaria ir a meu encalço. Eu estava atenta mesmo com toda calmaria. Estava indo para uma missão onde minha morte era praticamente certa. Cavalgávamos com cautela... O Sol estava começando a iluminar o céu e os poucos soldados que estavam espalhados pela floresta se mantinham acordados em guarda. Assim que coloquei os pés nos portões do Castelo senti o cheiro da refeição... Meu estomago roncou tão alto que me assustei... Pelo cheiro que se espalhava, era cordeiro assado. Continuei seguindo meu caminho antes que minha presença fosse percebida. Tarde demais... 

- SURYA!!! 

Era Pellor... Ele trouxe a ordem do diretor do Exército dizendo que teríamos treinamento coletivo. Eu reagi calmamente dizendo que já tinha planos para aquela manhã. 

- Não é uma escolha sua! É uma ordem! 

Pellor falou e se afastou de mim. Bufei esperando o Rei que estava conversando com os soldados no portão. Bati os saltos no chão e arqueei as sobrancelhas. Eu sempre fazia isso quando estava prestes a ter um ataque de ira. Eu sabia que uma ordem do Senhor Tertolo não poderia ser levada levianamente. Aquele não era o momento para desafiar o Cardeal. Com certeza a ordem partiu dele, mesmo sem saber o que eu tinha ido fazer no Castelo. O Rei voltou e seguimos para o salão. Eu ia olhando para todos os lados e a cada passo que dávamos era calculado e atento. Passamos direto pelos grandes portais que davam acesso aos aposentos e salões, caminhamos por um corredor e Hesmar parou diante de uma pesada porta e disse: 

~* Aqui voce pode deixar suas coisas, banhar-se se quiser, mas tarde venho busca-la para irmos até Mamãe, ela deve estar despertando agora. Vou exigir uma reunião entre nós três. 

= Por que não nós quatro? 

Hesmar olhou para os lados, coçou a cabeça, olhou para um lado para o outro, e disse: 

~* Não podemos ainda Surya! Meu irmão está enfeitiçado, não sabemos o que ele pode fazer. 

= Está bem Majestade! 

Hesmar abriu a porta e eu entrei, quando ele foi embora, eu senti uma presença, levei a mão numa das adagas que trago presas à cintura. A escuridão do lado de dentro me impedia de ver, depois de muitos treinos cegos, eu me situei. Um Elfo precisava saber se virar no escuro. Alguém falou docemente:

- Sou sua aia Senhor! Meu nome é Alinn. 

Respirei fundo retirando a mão da adaga! Alinn era uma jovenzinha bonita e cria de um dos braços direitos do Senhor Bartolo. Eu falei com aparente mau humor: 

= Saia! Não preciso de ajuda. 

Ela acendeu um candelabro que estava ao lado da cama sobre uma mesa. E soltou as lãs negras em cachos até a cintura, e colocando a mão no laço da fina camisola que usava ela disse: 

- Vim lhe dar um presente de vitória! Todos falam dos seus feitos. 

Sem esboçar nenhum gesto eu disse friamente. 

= Humana saia daqui! 

Ela se encolheu se assustando com o tom da minha voz! Parece que além de saber das vitórias ela sabia que ninguém deveria se negar a uma ordem minha. Ela perguntou com a voz sumida de medo: 

- Eu te desagrado? 

= Saia!!! 

A jovenzinha deixou sobre a mesa um cesta com pão e carne e sumiu. Respirei aliviada por estar sozinha. Olhei para a cama, forrada com cobertas muito convidativas... Minhas pálpebras pesavam implorando para se fechar. Antes de me deitar revisei o aposento me livrei do peso da armadura e me deitei sentindo a maciez das peles me embalar. Segurei a adaga antes de adormecer. Pareceu que eu só fechei os olhos, e o sol já entrava pela janela abusadamente, acabando com a escuridão do aposento. Tive um sobressalto quando ouvi pancadinhas na porta. Vesti-me rapidamente coloquei aa adagas na cintura e a faca na bota. 

Um Guarda me aguardava. Ele levou-me até a porta da sala de reuniões e pediu-me que esperasse. Fiquei parada ali esperando Hesmar que estava dentro da sala. Eu pensei comigo mesmo que algo estava errado... O guarda deveria ter-me anunciado e não me deixado do lado de fora. Como Hesmar saberia que eu estava ali com uma porta tão pesada? Percebi também que os outros guardas se afastavam de mim... Um deles cochichou algo no ouvido de um dos soldados e ele sorriu. Eu sabia exatamente o que ele queria fazer: machucar-me o suficiente para que eu desistisse do que quer que fosse que estava ali para fazer com o Rei e a mãe dele. 

Massageei minha mandíbula encarando-o, ele girou a espada me mostrando que era habilidoso. Mais alto, robusto. Eu pensei: 

= "Vou ter que mostrar mais uma vez minha força e habilidade. Onde está voce Hesmar"? 

O Humano andou na minha direção com passos curtos parecendo um predador, com a mão no cabo da espada que estava em sua cintura. Eu posicionei meus pés firmes no assoalho escorregadio. 
E minha mente divagou lembrando todos os movimentos que aprendi ensaiando com meu pai, e lembrei-me também, das lutas que travei durante a batalha... Querendo ou não, todas essas lutas haviam me transformado em uma arma... Aguardei o humano desembainhar a espada e vir na minha direção. Eu sabia que ele iria me desferir um golpe poderoso, e ele o fez. Eu retirei da cintura as duas adagas no mesmo tempo em que me desviei do golpe. Eu sabia que a espada dele levaria alguns momentos para ser colocada novamente em ataque, por possuir a ponta muito pesada. Então dei um giro e me abaixei sobre os tornozelos, e ainda me movimentando como um compasso, e dei um corte rápido na panturrilha do humano. Ele grunhiu, mas continuou avançando. Nos seguintes preciosos segundos em que me distrai erroneamente o humano desceu a espada novamente em diagonal sobre a minha cabeça.... A tempo de eu juntar minhas adagas em um X a parar o golpe! Eu desviei a espada dele para o lado, e desfiz o bloqueio empurrando a espada contra o vazio. O Humano era hábil e argiloso, ele desferiu outro golpe na horizontal para acertar meu abdome. Pulei bem rápido para trás, o que evitou um feio ferimento ou a completa intrusão da espada. Era uma luta difícil de espadas contra adaga. Porque o adversário chegava perto de mim com facilidade e eu não tinha alcance para feri-lo. Foram golpes atrás de golpes, que eu bloqueava e desviava do jeito que conseguia. Aquela luta estava me deixando irada, porque não chegava a lugar nenhum. O Humano aproveitou minha ira, que é o momento em que não pensamos direito e deixamos abertura, e desceu a espada no meu braço direito deixando um corte profundo... Eu sorri sentindo que a dor iria atiçar meu temperamento irritado e feroz... O Humano desarmou minha mão direita do ombro ferido com um giro da espada e me chutou a seguir. Eu grunhi entre os dentes e encontrei o olhar quieto e concentrado dele, enquanto os meus estavam agitados de ira. Meu corpo se moveu por instinto quando ele terminou de me chutar, fui mais rápida do que ele pôde acompanhar... Virei-me e finquei o salto da minha bota direita na parte detrás do joelho em que ele apoiava o peso, derrubando-o no chão, e sem que ele entendesse, como num piscar de olhos eu estava com a minha adaga na garganta dele... Hesmar apareceu na hora e disse: 

~* Pode mata-lo! Ele e mais cinco que estão aqui se fingindo de guarda real são homens do Cardeal. 

Olhei espantada para Hesmar e soltei um rugido de desaprovação. Eu não estava ali como executora! O soldado não disse nada em sua defesa, apenas me olhava determinado. Hesmar pegou a outra adaga na minha cintura, afundou na garganta dele e sangrou o humano diante dos outros cinco que não conseguiram fugir, por que o instrutor Bartolo estava ali com seus soldados cercando-os. Hesmar retirou a túnica suja de sangue, ficou de peito nu e disse: 

~* Venha Surya Mamãe nos espera! 

Eu entrei e contamos para Keren tudo que Jax nos contou. Víamos as feições dela mudar a cada minuto... No início ela possuía o olhar perdido, como se nada importasse. Mas foi mudando até ficarem ejetados de ódio e ela perguntou: 

- E minha mãe o que aconteceu a ela? Sua amiga te contou meu filho? 

~* Não mamãe! Mas o Cardeal deve tê-la matado com certeza! Ela era a Rainha até que voce pudesse reinar. O que aconteceu? Como voce veio parar com o Cardeal. 

- Mamãe me disse onde encontra-lo e pediu-me que fosse até ele e dissesse onde ela estava, disse que eu não contasse a mais ninguém ou estaríamos em perigo. Que somente o Senhor Marttei era confiável, porque ajudava o meu pai. Mamãe já estava bem, o fantasma da floresta tinha curado ela com um líquido gosmento. Mas quando o Senhor Marttei voltou, trouxe-a no lombo de um cavalo... Ela estava morta... Ele disse que a encontrou assim. Que deveria ter sido o tal fantasma de que eu mencione. 

Keren parou de falar e começou a chorar. Dizendo: 

- Com certeza foi ele que levou o tal bruxo que destruiu meu pai até "Atêmi". 

~* Não tenho dúvidas disso Mamãe. 

- E Meu filho? Como poderemos curá-lo Hesmar? 

~* Ainda não sabemos querida. 

Eu disse a ela que em meu povo existia um mago que poderia ajuda-lo. Keren pediu licença. Ausentou-se por mais ou menos meia hora. Depois voltou vestindo uma armadura, e carregando uma espada afiada. Ela possuía um olhar de ódio quando disse: 

- Sou eu quem irá matar esse miserável que me fez viver em um inferno e machucou meus filhos. Vou trazer a cabeça dele até voce meu Rei... 

~* Não Mamãe!! 

Keren saiu montou seu ginete e desapareceu pelos labirintos do castelo... 

....... 


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