Ensinamentos

Capitulo I

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Antes de sair da floresta de Avebury recebi alguns presentes: meu pai me deu um presente que era muito caro para ele. Eu até fiz questão de não aceitar dizendo a ele que não era certo me dar um presente que foi presenteado a ele. Mas ninguém dizia ao Elfo Mothar o que fazer. Então só me restou aceitar, mesmo que penalizada, porém, com muita honra por receber objeto tão precioso. 

* Meu pai me presenteou uma “boline”. Uma faca com o cabo branco que era utilizada na colheita de ervas, na confecção de talismãs e amuletos mágicos. A “boline” tinha a forma de uma pequena foice totalmente de prata, era um instrumento Druida usado na colheita de ervas mágica. 

* Ardal o guardião do Sul me presenteou um anel do gelo com a pedra branca. 

* Ie-mel o guardião do Leste me presenteou um anel do fogo com a pedra vermelha. 

* Landis o guardião do Oeste me presenteou um anel do vento com a pedra transparente. 

* Vanim o guardião do Norte me presenteou um anel da terra com a pedra verde esmeralda. 

* Feuda a senhora das águas me presenteou uma tiara azul turquesa. 

Por fim Mallos me presenteou uma espada Élfica cerimonial representando o Elemento fogo que é a força de um Mago. Era uma espada que além de ser muito útil em uma batalha ela poderia ser usada para controlar os espíritos elementais enquanto eles direcionam a energia para o mago. Ou poderia ser usada para banir espíritos indesejáveis. 

Eu estava me sentindo muito envergonhada com todos aqueles presentes de estimado valor para os Elfos. Mas não fiz a desfeita de rejeitá-los. Eu causaria imensa dor a eles. 
Como eu não possuía o poder de me tele transportar meu pai me deu um corcel para eu me locomover até a fronteira entre a floresta e o mar. Meu pai havia trazido o corcel da floresta alta, especialmente para mim. Ele era totalmente branco com longas e volumosas crinas brancas. Dei a ele o nome de “Rocyfer”. Nem parecia um cavalo selvagem! Era dócil e obediente para comigo. Mas atacava com suas patas fortes a qualquer ser que ele julgasse perigoso, sem dar ao mesmo a chance de se explicar.

Eu cavalguei pelas florestas de Avebury até o entardecer quando apeei para descansar meu querido “Rocyfer” e me alimentar. Encontrei uma clareira e armei uma pequena fogueira, soltei “Rocyfer” para que bebesse do rio, coloquei ao meu lado meu arco, a aljava, minha espada e me deitei para trás olhando a noite se aproximar pelas copas das árvores, enquanto esperava minhas raízes assarem na fogueira. Eu conhecia aquela floresta como a palma da minha mão. Eu saia junto com os elfos nas caçadas aos patos selvagens e cervos para os banquetes de forasteiros. Acompanhava-os nas noites escuras para assustar os invasores, caçadores e madeireiros que queriam destruir o nosso santuário. Nós os assustávamos de tal maneira que eles nunca mais voltavam. Nós corríamos com os lobos brancos atrás dos invasores de maneira que eles se embrenhassem cada vez mais na floresta escura. 

Levávamos eles para um local onde as árvores tinham seus troncos retorcidos, o clima era sempre úmido, nebuloso e com muito vento. E a luz que incidia sobre a floresta escura vinda da Lua, tinha o papel fundamental nesse caso. As sombras escuras e cinzentas misturadas pelas tonalidades de marrons e verdes das florestas causavam uma sensação macabra de isolamento nas noites negras. 
E para terminar o susto e apavoramento, tínhamos a ajuda do “Leshi” Um ser com a aparência de um gigante humano selvagem! E habilidade de mudar de forma. Era um Metamorfo podia se transformar em qualquer coisa; desde animal a pedra ou planta. Uma de suas formas preferida era um cogumelo gigante falante. Mesmo parecendo engraçado... Não era! Pois se ele percebesse a periculosidade extrema do invasor ele o matava rapidamente. 

Meu pai preferia que ele se transformasse numa espécie de cervo com dois metros de altura, com olhos fosforescente, pelagem branca, chifres enormes. Pior que vê-lo era ouvi-lo com roncos assovios e gritos. Se não estivéssemos por perto ele atrairia o invasor para sua caverna imitando a voz de algum deles e batia neles até mata-los. O "Leshi" podia comandar os ursos e tinha uma ligação muito forte com os lobos. Como todo protetor da floresta o "Leshi" era extremamente mau com indesejáveis. Antes de matar, ele gosta de atormentar os invasores com brincadeiras de mau gosto. Afinal os invasores adentravam as florestas com más intenções. Os “Campistas” não iam tão longe, montavam seus acampamentos logo nas entradas. Não mexíamos com eles. Até ajudávamos incógnitas se preciso fosse. Éramos protetores dos humanos. 

Por falar em proteção enquanto minha raiz cozinhava eu olhava as estrelas que começavam a salpicar o céu e me lembrei de quando nosso Mago fez uma proteção para o nosso santuário, com um grande círculo de salgueiro, penas de Íbis e crinas de cavalo trançada. Mas não fechou todo o círculo, deixou um buraco bem no centro, a seguir pendurou entre as duas grandes árvores que formava o portal de entrada do Santuário. Eu como toda cria curiosa perguntei a ele para que servia aquele amuleto: Mallos me respondeu com toda calma e sapiência:

- Adorada Alfrothul! Durante todo o nosso tempo de vida, existem muitas forças a nos rondar; algumas delas são boas! Porém outras muitas, são más. Esse grande amuleto nos ajudará a escolher a direção certa.

= Como assim Mallos? Eu não compreendi.

- É simples! Se voce ouvir as forças do bem, elas te orientarão na direção certa. Mas se por um motivo qualquer voce seguir as forças do mal. Elas irão te machucar! Elas te levarão na direção errada.

= Tem como evitar Mallos?

- Claro que tem minha pequena Princesa! Existe uma grande quantidade de forças no universo, circulando em diferentes direções. Essas forças universais poderão ajudar como também, poderão interferir na harmonia natural de tudo que existe. Podendo até interferir nos bons conselhos que ouvimos do “Grande Espírito” e assim atrapalhar os seus ensinamentos maravilhosos.

= E como esse amuleto irá ajudar?

- Veja adorada! A rede do amuleto foi montada em um círculo perfeito, mas, eu permiti que se formasse um buraco no centro do círculo, isso não foi apenas o acabamento, foi proposital. Todas as vezes que nosso povo passar pelo amuleto, será intuído naturalmente a fazer o uso da ideia principal que será:  "Reter tudo que for ruim e e deixar fluir tudo que for bom" e assim poderão alcançar seus objetivos, seus sonhos e suas visões.

= Mas Mallos! Eu ainda não entendo o motivo de voce colocar o amuleto aqui. O que os elfos sentirão quando olhar para ele eu entendi! Mas por que ele está aqui na entrada onde todo mundo passa apressado? Não acha que ficaria melhor na praça central? Ele seria mais visto.

- Sim! Ele poderia estar mais à vista, mas minha intenção em coloca-lo aqui na entrada. Além de ajudar a todos, eu pensei na proteção do Santuário. Com a ajuda do “Grande Espírito” espero barrar com a rede todo o mal e todas as ideias ruins que possam vir de fora. E irão atravessar só o que for bom pelo pequeno orifício. E que aconteça o contrário com o que esteja dentro do Santuário.

= Ah Mallos! Agora eu compreendi muito bem! Como todos nós cremos no “Grande Espírito” ao nos compararmos a esse amuleto usaremos as coisas boas de tudo que pensarmos e as coisas ruins que por acaso estiverem mescladas a essas, sairão pelo buraco não fazendo mais parte de nós. Voce é mesmo um grande Mago e muito sábio também! É como se esse amuleto detivesse o destino do nosso futuro! Usarei sempre o meu “Amuleto do destino”

- Minha pequena Princesa! Voce acaba de dar a ele um nome. "Amuleto do Destino"

= Dei? Ué! Seu grande amuleto não tinha um nome Mallos?

-Não! Eu o chamava apenas de rede.

Eu bati minhas mãozinhas, muito feliz e disse segurando na mão dele para continuarmos a caminhada:

= Então esse foi meu primeiro feito como filha do Líder Elfo!

- Não minha Princesa! Seu primeiro feito foi iluminar nossas vidas com a sua presença dourada!

= Mallos seu bobo! Eu não sou dourada, eu sou alva.

- Isso, porque voce não consegue ver a aura como os elfos minha pequena Alfrothul!

Ao ouvir aquilo eu me calei... Continuei o caminho pensando na minha condição de “não elfo”. Mallos respeitou meu silêncio. Acompanhou-me até minha casa, mas ao chegar e ver meu pai com os braços abertos para um abraço, então, atirei-me naqueles braços protetores e esqueci tais pensamentos.

Algumas cenas da minha vida sempre passavam por minha cabeça enquanto eu treinava para aquela jornada de volta para minha Ilha. Eu não sabia o que encontraria... Se ainda queriam uma Princesa... Se meu povo sabia da existência de uma... Ou se achavam que o “Fáculah” engoliu-me junto com minha mãe. A Lua nasceu clareando a floresta! Sentei-me para me alimentar, minha raiz já estava assada e cheirosa. Quando ouvi vozes... Apaguei o fogo bem rápido fiquei atrás de uma árvore e continuei ouvindo; eram dois machos e eles diziam:

# Vai começar tudo de novo! Essa carnificina nunca acabará. Nosso Rei já é velho e o capitão não é dos melhores.

♠ Voce tem razão! Até o grito de guerra dele parece muito gasto e sem sentido.

# Nenhum de nós os soldados, entendem mesmo aquele grito de guerra. Acho que ele copiou de um Orc.

♠ Que isso! Nosso capitão nunca viu um Orc. E eu espero que nunca veja! Pelo que eu ouço sobre eles todos nós seremos destruídos se nos atacarem.

# Principalmente porque nossas espadas estão quase sem fio, no máximo cortaremos algumas dezenas de pescoços e braços. Eu nem sei qual foi o dia que eu consegui descansar. Mas esse foi um pedido do próprio Rei. Não podíamos negar.

♠ Como será que essa mulher irá nos receber?

# Sei lá Aristeu! Nem sei dizer qual foi o ultimo dia que vi uma mulher sem armadura.

♠ Está bem façamos silêncio que estamos perto.

# Como sabe?

♠ Nós seguimos a bússola. E aquele ali na frente, é o carvalho centenário. Quando chegarmos diante dele devemos bater e esperar.

# Aristeu!

♠ O que é? Shuiiiuuu

# Eu estou com medo!

♠ Com medo de uma mulher? Apesar de todas as mortes e todo sangue que já presenciamos voce tem medo de uma mulher!

Nisso eles chegaram a tal árvore e bateram... Esperaram e nada. Bateram novamente...

Alguém gritou de dentro do carvalho com sua voz profunda... Os dois machos tremeram de medo perante aquela voz que bradou:

*- Quem ousa perturbar o meu sono?

# Viu porque eu estava com medo Aristeu? Poucos sobreviveram depois de ouvir a voz dela.

♠ Mas... Nós estamos vivos. Mijados! Mas vivos.

#...É....

♠ Senhora Jax! Trago uma carta do Rei para Senhora.

Um portal se abriu e de dentro do carvalho e surgiu uma fêmea Dríade com quase dois metros de altura, um corpo escultural e longos cabelos de gramínea e no ombro dela uma grande coruja com as asas abertas e o olhar penetrante... Os dois estavam tão trêmulos que eu podia ouvir de longe seus ossos trepidando. Ao terminar de ler a carta a Dríade pegou uma grande espada com quase um metro e oitenta da ponta da lâmina ao cabo. Com certeza ela colocaria fim a qualquer guerreiro em questão rachando suas cabeças com um só golpe. O Olhar da Dríade foi o que mais assustou aos dois... Eram verdes vibrantes, obstinados sanguinários. Eu me encolhi quando passaram por mim... Não gostariam de saber que uma menina bisbilhoteira estava observando-os, e algo poderia fugir ao controle. 

Voltei até onde estava minhas coisas e me arrumei para descansar. A lua havia ido embora e “Rocyfer” estava ali perto de mim. Após alguns momentos de descano, meu belo corcel se agitava perto de uma árvore, balançando incessantemente suas crinas e marchando como se algo estivesse acontecendo. Me levantei novamente e fui averiguar do que meu corcel estava me avisando... 

Eu não sabia entender os animais como os elfos, isso não se aprende com treinamentos, mas percebi que aquele gesto que “Rocyfer” fazia com a cabeça, era para que eu o montasse. Voltei ao meu acampamento apanhei meu arco e minha espada e o montei sem cela. “Rocyfer” saiu em disparada por uns trezentos metros, e me levou até onde estava um humano preso pela perna, em uma armadilha de ferro dentada... Armadilha usada por caçadores para estrangular algum determinado animal. E a súbita investida do humano para se libertar acabou por fazer que os dentes da armadilha fincassem mais ainda em sua perna. Apeei com “Rocyfer” ainda em movimento e corri na direção do humano que se esvaia em dores atroz. Pedi que ele ficasse quieto e coloquei a espada junto ao tornozelo dele cravando-a no chão, a seguir fiz uma alavanca para que abrisse um pouco e pedi que ele ajudasse tentando abrir. O mecanismo da armadilha era muito forte, mas conseguimos abrir. Ele tirou o pé e se jogou para trás sentindo muita dor.

Pedi que ele esperasse um pouco, corri mais a frente e colhi umas ervas anestésicas e umas ervas curativas. Usei a água do cantil dele para lavar o ferimento e cobri o ferimento com as ervas anestésicas para depois cuidar do ferimento sem que o humano se mexesse tanto. Assim que a dor aliviou ele disse. 

- Voce é uma fada não é?

= Não!

Fiquei em silencio cuidando do ferimento. Cobri com folhas do musgo de esfagno. Esse musgo é uma planta que não apresenta mecanismos de condução de fluidos que se desenvolve especialmente em climas úmidos e frios. Enrolei sobre a ferida para que o humano não perdesse sangue e envolvi com cipós finos. Procurei ao redor um galho grosso e forquilhado para servir de apoio para que ele conseguisse andar e dei a ele. Recomendando que tivesse cuidado ao se levantar, perguntei onde morava para que eu o levasse no meu corcel. Ele sorriu e disse: 

- Voce é linda! Se não é uma fada quem é voce?

= Uma fada cabe na palma de sua mão! O que não é o meu caso.

- Se voce quisesse caberia! Pelo menos seu belo rosto.

Eu que estava tentando ajuda-lo a levantar-se, mas ao ouvir seus galanteios voltei à postura correta. Ele continuou com um sorriso:

- Que pena! Eu adoraria ver esse decote novamente um pouco mais de perto.

Eu balancei a cabeça em sinal de negação ao comentário do humano. Apesar de ser o primeiro humano que eu via tão de perto e tocava nele, não gostei da sua audácia a alguém que acabara de ajuda-lo em um momento de sofrimento. Sem contar que ele poderia ser pego pelo animal a quem a armadilha era dedicada. Resolvi deixa-lo a sua sorte para que ele aprendesse a ter respeito. Deixei ao lado dele as ervas que sobraram para refazer o ferimento e fui para junto de “Rocyfer” . Ele me chamou. 

- Hei! Desculpa-me! Não me deixe aqui! Eu sou um soldado e estou em uma missão. Quem é voce?

Olhei para ele pensando; "como um soldado poderia ser tão imaturo"? Eu poderia chama-lo de “galanteador de donzelas indefesas”. Bem, embora eu não fosse indefesa. Eu conhecia as artes da espada e do arco e flecha como ninguém. Mas ele não sabia. Ele era forte apesar de não parecer, senti isso quando toquei nos músculos da perna dele para cuidar. Possuia uma beleza natural, parecia vaidoso disso. Cabelos pretos, olhos esverdeados bem claros, barba rala: “por fazer” um humano irresistível! Respondi a ele do alto! De cima de “Rocyfer” altiva e dona de mim: 

= Sou filha do Elfo Mothar o Rei do povo élfico “Ljosalfr”.

- Meu Deus! Elfos existem mesmo! Eu nunca esperava estar diante de uma elfa... Por isso voce é tão linda. Onde estão os elfos? São todos belos como voce?

= Muito mais belos se voce quer saber! E meu reino está bem distante daqui. Assim como voce estou em uma missão. Passar bem! Preciso ir.

- Não vá! Por favor! Meu nome é Jyann de Vancor! Sou da “Ilha Anatólia”

Senti meu sangue gelar ao ouvir aquilo. Fui instruída a não deixar que soubessem que eu era até chegar a “Ilha Anatólia”...

= Que o grande Espírito te proteja!

Após desejar bons fluidos ao humano eu dei uma tapinha no pescoço de “Rocyfer” que disparou para o local do meu acampamento... Chegando lá recolhi rápido minhas coisas e continuei minha jornada para casa... Vez ou outra olhava para trás me certificando que não fora seguida... Ainda faltava muito para chegar à fronteira pelo mapa que meu pai me deu...
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