Rei Elfo dos "Ljosalfr"


Capitulo XVII


Eu não queria encarar o que estava por vir. Não que eu fosse uma covarde: longe de mim tal coisa. Em outra oportunidade eu encararia os Centauros com a minha cabeça erguida e com muito orgulho por ser uma guerreira, mas eu precisava salvar Keren, Hesmar, a Dríade e sabe-se lá quem mais... Eu não sabia o que poderia ter acontecido durante o tempo em que eu estive na dimensão de Aikin. Era a primeira vez que eu tinha atravessado um portal, e aquilo me deixava apreensiva. Eu como estudiosa sabia que nenhuma dimensão era mais importante que a outra, o equilíbrio entre elas é que trazia a paz e a harmonia entre os mundos. Mas ainda estava desconfiada do motivo que me levou a travessá-la. Porque somente eu atravessei? Estávamos Hesmar e eu. 

Como se eu tivesse apenas piscado já estávamos do outro lado... “Em Anatólia” próximo a casa do Cardeal donde estávamos fugindo Hesmar e eu quando saímos das barras mágicas do Cardeal.. Adryel recuperou sua forma humana, prendeu suas lãs compridas embaixo de uma gorra e caminhou lentamente para a casa do Cardeal. Alguns soldados do exército do Rei que estavam de guarda nos portões quiseram saber preocupados; 

-Teve êxito Majestade? Conseguiu encontrar o Capitão?

- Não consegui ainda! Estão dispensados! Podem continuar as buscas.

Um deles olhou estranhamente para Adryel e falou com o companheiro:

- O Rei não está bem! Viu o tom da voz dele? Está estranha, parece embolada.

- É todo esse sofrimento. Vamos às buscas! Precisamos encontrar a Capitã Surya quanto antes. Isso, se ela não foi raptada pelos soldados de “Atêmi”.

- Bate nessa boca Tássio ! Eles são carniceiros e podem tê-la matado essa hora.

Os soldados se afastaram e eu me encaminhei furtivamente para a casa do cardeal. Eu não queria que me vissem para não perder o momento surpresa. Eu usei a entrada lateral onde os portões não são vigiados. Ninguém ousa entrar por lá, porque é onde ficam os lobos do Cardeal. Eles ficam soltos em uma extensão de terra com 50 metros quadrados "a selva particular em seus cativeiros". Saltei para cima do muro e tentei descobrir onde estava cada um deles. Quando identifiquei suas posições me preparei psicologicamente e pulei para dentro do terreno. O alfa percebeu minha presença e deu o alarme aos outros com um uivo longo e um curto. Todos os lobos correram para onde eu estava quando estavam a uns cinco metros de mim começaram a avançar em silêncio, com passos lentos, o focinho mais baixo que o corpo e arfando. Era o sinal de ataque. Me abaixei, coloquei minhas adagas e minha faca no chão a minha frente lentamente. Abaixei a cabeça, depois levantei mantendo a cabeça meio ereta e o pescoço arriado de forma que eu fixava os olhos diretos neles. Mostrando respeito e ausência de medo. Eles continuaram se aproximando com as mandíbulas expostas e os olhares ferozes. Eu levantei a cabeça, ergui os dois braços à minha frente com as mãos espalmadas e emiti o som do uivo do alfa... Os lobos estavam todos prontos para o ataque... Mas o Alfa saltou na frente deles com as mandíbulas expostas e os olhou com liderança e ordem. Os lobos abaixaram a cabeça e todos vieram para mim, cheirando e rodeando-me. Eu me abaixei e os deixei que sentissem o meu "animal interior". Eles ainda não estavam calmos, porque eu possuía outro espirito. A essência de Aikin! Mas em compensação, eu tinha a confiança do Alfa que não deixou que eles atacassem. Com um comando todos dispersaram! Após recolher minhas armas, o Alfa me acompanhou até a entrada secreta. Empurrei uma pesada porta que estava encoberta por Heras... Que gentilmente se afastaram com a minha presença. Eu pensei: 

= “Devo mesmo ter-me tornado um Dríade! Fui curada duas vezes por duas espécies diferentes deles”.

Me despedi do Alfa e entrei em um longo corredor com parede de pedras, mais à frente encontrei  uma passagem para o andar de inferior. Desci um lance sinuoso de escada na escuridão. Mas por incrível que possa parecer, o escuro não era problema para mim. Depois de descer a escadaria escavada na rocha cheguei diante de uma porta. Quando toquei nela... Estava destrancada... Estava fácil demais! Com certeza era uma armadilha, mas eu precisava entrar para salvar Keren das mãos daquele amaldiçoado e se possível livrar Pellor do feitiço. Entrei! Era um salão com muitos livros, luzes difusas que não causava sombras e tinha uma claridade confortável. No centro, uma mesa de pedra  onde tinha em cima um grande Grimório aberto... Aquilo não era bom! Continuei com cautela, não queria ser surpreendida. No fundo da sala tinham duas portas, Uma trancada e a outra entreaberta. Empurrei bem devagar para não ranger, a porta entreaberta, para averiguar o que havia na sala... Havia uma forte luz no centro do salão... Fechei os olhos depois olhei novamente. Era uma espécie de magia que girava em torno de alguém... Keren! Estava de costas para porta, mas reconheci suas longas lãs vermelhas. Olhei em volta se havia alguém, eu precisava ser rápida e com certeza meu amuleto iria me ajudar a parar aquela magia e salvar Keren. 

Antes que eu apertasse nas mãos meu amuleto, apareceu no do canto escuro da sala o Cardeal... Ele estava com as duas mãos juntas e escapava delas, uma luz translúcida que pulsava no ritmo dos batimentos cardíaco, e foi crescendo lentamente no espaço entre as palmas das mãos dele. Eu pensei em usar aquele poder também contra ele com meu amuleto. Mas a pequena esfera brilhou através dos dedos dele, lançando longas sombras na sala e de cada sombra surgiu um soldado... E eles me rodearam... Segurei nos cabos das minhas adagas e me coloquei em posição de luta. Mas minha atenção estava na esfera de luz do Cardeal.... À medida que a luz se tornava mais forte, uma nevoa negra foi se formando em torno do Cardeal... E os soldados me renderam com uma facilidade irritante. O ar ao redor dos braços do Cardeal ondulava com a luz da esfera brilhante. Presa pelas mãos dos soldados que seguravam meus braços, meu ombro quase numa "gravata" e nos meus pulsos, eu examinei o local para uma possível fuga. Quando os soldados se distraíram eu me soltei fazendo um giro com meu corpo e derrubando o soldado que me segurava pelos ombros. E  levantei instintivamente a mão esquerda na frente do meu peito... E uma barreira azul luminosa emanou da palma da minha mão... Abruptamente um redemoinho de vento se levantou bem na hora que o Cardeal atirou sua esfera estourando de encontro ao poder que criei, ricocheteando no escudo energético. As lâmpadas se apagaram e a sala ficou mergulhada na escuridão, sendo clareada pela magia que prendia Keren. Nisso um dos soldados atingiu minha nuca com um objeto metálico e eu desfaleci... 

Quando despertei, no salão reinava  grande escuridão criada por uma névoa negra... Que se mesclava a luz da magia que prendia Keren. Eu estava presa de braços abertos na parede como uma caça embalsamada, com grilhões nas pernas, pulsos e testa. Lentamente eu percebi que a escuridão foi devido a pancada na nuca, a sala estava clara. E o Cardeal estava diante do seu “Grimório” sussurrando. Ai sim! Uma escuridão espessa e esfumaçada invadiu a sala pelas aberturas que havia e foi se instalando na sala e sufocando todo som... Ficando um silêncio assustador... Os soldados que estavam servindo ao Cardeal ficaram trêmulos de pavor, daquela escuridão palpável como uma seda preta que cobria o salão, parecendo sugar toda a vida quando tocava. No entanto não me causou nenhuma impressão de pavor. O que aborreceu gravemente ao Cardeal. Ele flutuou em direção a mim, carregando um cajado que criava tentáculos escuros girando em torno de seus pés a cada passo que ele dava ao se aproximar... Mas para espanto dele: Antes que me atingisse com seu cajado, ou seja, lá com o que fosse. Baixou um véu de vapor dispersando toda onda de escuridão que reinava no salão... Do meio do véu de vapor saiu um vulto alto esguio todo vestido de branco diante dos olhos arregalados do Cardeal... A mão esquerda do vulto pousava sobre o cabo de sua espada presa ao cinto. O vulto terminou de materializar-se, afastou as lãs do rosto com um movimento displicente e disse: 

= Meu nome é Mothar! Sou o Rei Elfo dos "Ljosalfr" de "Avebury"! Eu exijo que solte a minha filha! Ou voce irá se arrepender desse ato impensado.

Marttei olhou para o ser a sua frente sem acreditar que alguém assim estava dentro de seu esconderijo... Ele se movimentava como um felino. Não parecia forte, mas possuía uma aura de autoconfiança demonstrando ser um herói de muitas batalhas. Os olhos de Marttei não revelavam o que ele pensava, seu rosto estava inerte como uma máscara quando ele falou: 


- Na minha terra só quem carrega espada são os fracos. Para lutar comigo será preciso: coragem, força e habilidade. 


O Elfo não respondeu, continuou olhando-o com os braços por baixo de sua longa capa! 

- Somente poucos guerreiros possuem essas três virtudes em medidas equivalentes. 

O elfo continuou sem esboçar reação alguma! Irritado o Cardeal que virou para onde eu estava presa  e se preparou para enviar uma rajada da sua magia fatal... Mothar virou-se girando sua capa! E a espada dele ergueu-se no ar... A menos de um dedo de distância do peito do Cardeal assustando-o com aquela velocidade e finalmente o Elfo falou: 

= Voce irá me atacar agora ou quer uma espada para fazê-lo? 

Marttei chegou para trás deslizando... Enquanto preparava sua magia, a seguir elevou-a acima da cabeça e atirou como se fosse acertar o peito do elfo, mas desviou para desarmá-lo acertando nas costas de sua mão. O elfo deslizou afastando-se o suficiente para que Marttei errasse o golpe apenas por algumas polegadas. E o guerreiro petulante sorriu. Marttei tomou distância e tirou sua espada da bainha. Ele pensou em usar uma artimanha que o fazia vencer sempre. Pisou usando o pé direito com um movimento brusco para frente como se fosse acertar uma bofetada no Elfo. E ao mesmo tempo deu um golpe com sua espada de dois gumes afiadíssima. Girando a mão direita, e mirando o joelho do Elfo. (Esse golpe só seria percebido depois de a lâmina o atingisse, porque o oponente estaria atento a bofetada que ele só fingiu dar)... Mas o Elfo acertou um soco desviando a mão de Marttei para o lado, e um chute na mão da espada fazendo-o errar o alvo. 
A seguir o Elfo cravou-lhe o joelho entre as pernas. Marttei se abaixou sem conseguir respirar de tanta dor... O Elfo o empurrou ao mesmo tempo em que o descalçou fazendo ir ao chão. Marttei piscava varias vezes tentando enxergar com mais precisão, mas o Elfo era tão rápido que parecia um espectro sobrenatural... Marttei queria usar sua magia contra o Elfo, mas ele parecia estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Então ele desenhou um semicírculo no ar e atirou em Keren que caiu ferida de morte diante do seu filho Adryel que acabava de chegar naquele momento após vencer vários soldados fora da casa. O Elfo correu para junto da Rainha para ajudar a curá-la, mas saindo não se sabe de onde... Pellor atacou-o atirando uma flecha com direção de seu coração, mas que acertou seu ombro direito pela velocidade que o Elfo estava... Pellor foi ajudar ao Cardeal enquanto Adryel abraçou a mãe desesperado. Ela precisava saber que ele estava vivo. Ele queria conhece-la. Keren abriu os olhos e disse para Adryel: 

- Hesmar... Filho meu... Saia daqui agora é perigo... Demais... Eu já estou mor... 

Antes que ela acabasse de falar Hesmar chegou... E Keren vislumbrou com os olhos cheios de lágrima seus gêmeos juntos... Ela não acreditava no que seus olhos teimavam em provar a ela: Seu desejo realizado. Hesmar se aproximou para tirá-la dali quando seus olhos encontrou suaa cópia perfeita... Ele apenas disse:

*- Mamãe...

Enquanto Pellor amparando o Cardeal sacudia a cabeça... Tentando manter-se sóbrio e não permitir que o lado da escuridão tomasse todo seu espirito. O Cardeal falou ousado: 


- Eu sou um mago! Tenho mais de cem anos e não vou ser vencido por uma criatura da floresta. Outra coisa: Como ela pode ser sua filha se voce é um elfo? Essa desgraçada é filha de Áureo e vai morrer por isso. Mate-o Pellor. AGORA! 


O Rei Elfo Não disse nada apenas esperou enquanto curava seu ferimento no ombro. Aproveitando que o Cardeal e os soldados estavam distraído com Pellor e o Elfo eu usei toda minha força mental e mutei pela primeira vez para uma Dríade. Meus braços e pés eram galhos finos que eu puxava lentamente para tirá-los dos grilhões. Pellor continuava sacudindo a cabeça, tentando não se deixar dominar quando foi ao encontro de Mothar que continuava imóvel olhando fixamente para ele. Pellor tinha certo encantamento pelo Elfo a sua frente... Mesmo que sua missão fosse mata-lo. O Elfo também era um ser centenário, Mas ao contrario de Marttei o povo élfico não contabilizava a idade. Mothar se assemelhava a um Anjo. Só que não possuía asas. As lãs lisas abaixo da cintura, a pele clara quase albina, os olhos de um azul marcante e desenhados de forma encantadora, ornamentando seu rosto sem pelos. A boca carnuda que levantava suspiro das fêmeas. Corpo esguio e longo e orelhas extremamente pontudas, que sobressaíam as suas lãs compridas, sendo impossível disfarçar que fosse um elfo. Sempre usava vestes de cores suaves. Como camisa de mangas longas sem costuras, e calças claras e finas. Seu reinado vinha de sucessão, de família nobre. Sua mãe foi o primeiro ser vivo a dominar um dragão. Depois que sua mãe morreu misteriosamente ele assumiu o trono, reestruturou, fortificou e fechou as fronteiras do reino. Não permitindo que entrasse qualquer tipo de visitantes nem mercadorias, mesmo que o reino “Ljosalfr” não fossem produtores dos itens básicos como trigo e especiarias. A amizade dele com Mallos ajudou a nosso povo a aprender a cultivar esses produtos.  Pellor estava perto a ponto de acertar um golpe com a espada de poder que Marttei lhe deu. Ele disse: 

- Estou apenas seguindo ordem Senhor! Sinto muito mesmo! 

E com a fúria de um louco Pellor atacou com sua espada esticada para frente diretamente no abdômen de Mothar... Com uma espécie de impulso que mais pereceu um voo, eu entrei na frente e recebi a espada sendo totalmente aprofundada em meu abdômen... Despertando Pellor do transe. Ele se abaixou me pegou nos braços e gritou.

- NÃÃÃÃÃÃÃÕ SURYA! MINHA IRMANZINHA!
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