Confiança

Capitulo XI

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Mais ou menos uma hora depois a *Árvore-Hera* estava totalmente seca e o casulo que me envolvia começou a se partir, descobrindo meu corpo que estava totalmente esverdeado, até minhas lãs douradas estavam verdes... Hesmar se aproximou da árvore seca, tocou nela por alguns segundos, e o “Espirito da Natureza” saiu da árvore um pouco tonta e desnorteada... Chegou ao meu lado olhou-me por longos minutos como se estivesse fazendo uma oração, em seguida disse a Hesmar que eu havia me livrado do veneno dos humanos, e que logo estaria de pé. Com suas longas garras me espetou me dando choques de energia e desmaterializou-se desaparecendo. 

Os soldados estavam estranhamente em silêncio como se tivessem sido assolados por um sonho estranho e estivessem acabando de acordar. Jyann que estava mais acostumado com seres da natureza, perguntou: 

- Ela está salva Majestade? 

~* Sim soldado! Embora um tanto verde, mas está bem. 

- O “espírito da Natureza” que a salvou é maravilhoso! Majestade! E pelo visto é sua amiga. Eu também tenho uma amiga Elemental... Não é um espirito, mas é bem bonita! É uma Drow! Já ouviu falar da Rainha Aurora? 

~* Uau! É a Rainha Aurora a sua amiga? Sim, já ouvi falar e já ouvi também que todos a temem. 

- Um dia Surya e eu ajudamos a Rainha Aurora com uns inimigos e ganhamos sua amizade. 

Disse Jyann todo orgulhoso! Hesmar pensou um pouco e depois falou como se Jyann fosse seu amigo e não seu soldado. 

~* Voce não tem nenhum problema com criaturas sobrenaturais não é Jyann? 

- Não Majestade! Quando fui estudar fora da “Ilha” no mundo original, eu morava no campo beirando uma mata fechada. Certo dia quando meus tutores e eu fomos a cachoeira, eu escorreguei em uma pedra e cai, nesse tombo eu bati a cabeça perdendo os sentidos. Os meus tutores me procuraram por horas sem me encontrar. Porque eu tinha sido levado para dentro de uma árvore... Acordei  com algumas criaturas em torno de mim... Elas eram tão belas que eu pensei que estava morto e que fossem Anjos. Eu tinha treze anos e estava com meus hormônios a flor da pele, aquela visão me deixou encantado e posso dizer apaixonado... As criaturas eram todas fêmeas lindas, nuas e com asas. Os cabelos, olhos e asas eram das mesmas cores, passava pelo verde, amarelo, rosa, azul, branquinho, vermelho, lilás. Elas estavam cuidando de mim, porque eu tinha aberto a cabeça com a queda nas pedras. Me curaram e depois de alguns murmúrios que eu não entendia, conseguimos nos comunicar! Elas me disseram que eram fadas, e que cuidavam dos humanos que por ventura se perdiam, ou se machucavam na floresta delas. 

Eu estava tão encantado que não queria ir embora... Mas eu já estava curado e precisava ir, depois de algumas teimosias elas me convenceram a ir embora. Antes que eu fosse, elas me disseram seus nomes, e o que a cor de cada uma representava, e de repente ficaram minúsculas. Eu não conseguia mais entender o que falavam naquele estado que ficaram. Uma delas falou dentro da minha cabeça que aquele era seus verdadeiros tamanhos, e que ela podiam ficar do tamanho de quem precisava ser  curado, por que eram elementais da natureza. Disse que eu deveria ir para o local onde me acidentei porque meus tutores estavam a minha procura, e pediu também que eu não falasse sobre elas, que dissesse apenas que me perdi. A ferida estava cicatrizada como se nunca tivesse existido, as fadinhas com voos maravilhosos me ajudaram a encontrar o local onde me acidentei. Depois desse dia eu sempre ia aquela cachoeira para tentar vê-las... Fiz isso durante toda minha adolescência até o dia em que voltei para “Ilha”, porém, nunca mais eu as vi. O que eu via, eram apenas borboletas nas cores delas, acho que elas enviavam as borboletas para que eu não ficasse muito triste. 

~* Pobre amigo! Eram elas! Suas Fadas sempre estiveram lá para que voce as visse. O seu amor por elas deveriam tê-las identificado. A floresta é um lugar como outro qualquer: Têm regras, lições, tradições. É como no nosso reino: todos devem seguir as regras e comandos para que tudo fique completamente em ordem! Principalmente a obediência. Com certeza elas eram proibidas a terem contatos novamente com quem elas salvavam, por motivos óbvios. 

- Oh Majestade! Eu as decepcionei. 

~* Não decepcionou meu amigo! Elas podem ler sua mente. E sentiam seu grande amor por elas. 

- Será? 

~* Pode acreditar em mim, eu... 

Eles pararam de conversar quando me viram acordar... Eu despertei de maneira brusca, porque senti muita dor no corpo e um calor fora do normal no meu rosto. Abri os olhos e percebi que eu estava deitada... Ainda sem entender fechei novamente os olhos... Depois de alguns segundos os abri definitivamente acordada! Joguei o lençol com brutalidade para o lado e me levantei... Eu estava impressionada de como eu poderia estar deitada tranquilamente e adormecida, se estávamos em guerra. Foi quando vi os olhares dos soldados que seguiram o meu Rei sobre mim, eu olhei para baixo... EU ESTAVA VERDE!!!!! Estava nua também, mas isso não era problema para mim. Eu estava completamente verde... Ainda não me recordava que tivera enferma com tétano. ( bem era o que achávamos quando eu desfaleci). Antes que pudessem me explicar o que quer que fosse Pellor entrou na tenda Médica... Trocamos um olhar áspero que foi percebido por Hesmar que perguntou: 

~* Voces se conhecem? 

- O que essa mulher está fazendo nua aqui? Voces estão fazendo uma orgia durante uma batalha? 

Pellor falou evitando ter que responder se nos conhecíamos. Jyann tentou ir até ele furioso, mas foi barrado por Hesmar que falou com dureza: 

~* Pellor! Respeite meu soldado! Ela está acabando de acordar de uma enfermidade muito perigosa ninguém aqui está de brincadeira. Prefiro que voce fique com mamãe! Podem invadir o Castelo furtivamente! Voce não deveria estar aqui. 

- Sim majestade! Só vim avisar que o pelotão de novatos chegou. 

Pellor falou com deboche e se preparou para sair... Mas voltou como se só tivesse percebido naquele momento e perguntou: 

- Porque essa mulher está verde assim? 

~* Essa mulher não! Ela é a "Comandante dos Arqueiros"! E sobre estar verde é porque ela teve alergia ao medicamento. Agora vá para o Castelo Pellor. 

Antes de sair Pellor me lançou aquele olhar áspero enquanto eu me vestia, e saiu sem parar de me encarar com raiva enquanto montava seu cavalo. Pellor era o típico humano perfeito: alto, musculoso, ruivo, olhos castanho esverdeados. Costumava ser gentil, com presença agradável, até que resolveu matar seu próprio irmão. Passou a ser antipático e completamente fechado. Hesmar falou pensativo: 

~* Não entendo porque voces dois se odeiam tanto! Isso é visível demais! 

= As coisas tendem a parecer outras totalmente diferentes do que são. Majestade! 

~* Claro que não! Eu percebi e todos aqui também. Já se conheciam? 

Era a primeira vez que nos encontrávamos depois daquela maldita manhã e Hesmar tinha que tornar isso mais difícil do que estava sendo eu respondi enquanto calçava as botas sem olhar para o Rei: 

= Antes de “Anatólia” não! 

Eu estava omitindo, sem mentir... Como que para me ajudar a fugir das perguntas, apareceu na entrada da tenda um grande militar armado de uma besta espetacular com duas flechas prontas para atirar. Os soldados se posicionaram na frente do Rei e o militar falou com sua voz carregada de ódio: 

- Acham mesmo que seis soldadinhos podem me impedir de matar esse miserável que cegou meu Rei? 

Jyann se preparou para dizer que não foi Hesmar, mas ele se adiantou dizendo. 

~* Estávamos em uma frente de batalha! Eu não queria cegar seu Rei, queria mata-lo! Antes que ele decepasse minha cabeça com sua espada. Ele teve sorte! 

Eu havia terminado de compor minha farda e me levantei enrolando meu amuleto no pulso, mas o militar falou estufando o peito: 
,
- Fica onde está soldado! 

Levantei o olhar para ele e vi que havia outros lá fora em pontos estratégicos talvez esperando um comando para atacar, não sabia quantos ainda. O militar falou debochado. 

- Querem mesmo morrer junto com seu monarca soldados? Pensem bem na resposta. Hoje é o aniversário da minha mãe e não quero chegar diante dela com a farda suja de sangue. 

Todos nós demos um passo a frente! Era complicado ver todos aqueles soldados protegendo um homem que parecia ser o filho deles. 
Percebi que o militar fez um sinal discreto e os soldados invadiram. Todos nós estávamos desarmados... Eu dei um passo à frente e todos os arqueiros armaram suas flechas na minha direção, menos o militar que continuava fanfarrão desafiando o Rei. Não sei o que eles queriam, porque não atiravam logo? Senti algo dentro de mim se projetar como se eu tivesse tomado nova natureza... 
Dei mais um passo e disse gargalhando intensamente e me aproximando mais: 

= Voces estão todos iludidos mesmo, achando que suas armas irão me matar! 

- PARE OU ATIRAMOS! 

Gritou um deles destravando a besta, a seguir todos os outros fizeram o mesmo. Eu falei sorrindo assustando meu pelotão que me chamava apreensivos. Eu disse: 

= Sabiam que com uma ordem vinda de mim voces podem matar uns aos outros e a esse seu chefe fanfarrão? Isso me pouparia o trabalho. 

Nisso vi o pavor tomar conta deles... Foi porque, meus olhos tinham ficado completamente negros em toda órbita. Aproximei-me ainda mais, ficando á cinco passos de distância mais ou menos. O militar gritou: 

- ATIRA IDIOTAS! 

Os soldados besteiros começaram a atirar em minha direção... Jyann gritou apavorado... Fechei meus punhos e senti um peso nas costas... Foram asas que se projetaram das minhas costas e se fecharam a minha frente me protegendo das flechas das bestas... Eu gritei nas mentes deles. Com os olhos agora de um vermelho vivo: 

= VOCES AINDA QUEREM ME DESAFIAR? MATEM SEU CHEFE! E MATEM UNS AOS OUTROS! AGORA!!! 

As bestas que antes se mantinham apontadas para mim e para meus amigos... Agora estavam apontadas entre eles... Atirando uns nos outros... Matando-se entre eles... Meus amigos e meu Rei com as mãos na cabeça olhavam-me apavorados enquanto eu assistia parada entre eles, aspirando o cheiro de sangue e de morte... Eu sorria... E perguntei: 

= Porque humanos são tão idiotas? 

Os soldados olhavam minhas asas, fascinados e morrendo de medo... Jyann se adiantou, tocou meu ombro e me chamou pelo nome... Baixei o olhar para mim mesmo intrigada e falei: 

= Eles não deviam enfrentar seres que eles não conhecem! Nunca devem subestimar um inimigo...  E... 

Em seguida senti vertigem e... Acabaram-se meus sete minutos de superpoder. Cai quase desfalecida nos braços de Jyann que me levou até o Rei.
Hesmar colocou a mão del sobre a minha e me disse: 

~* Antes que por algum motivo, voce venha me matar, me responde: Quem é voce? 

Eu segurei na gola da farda dele, puxei seu rosto para junto do meu e disse em seu ouvido : 

= Eu sou sua irmã! 

...... 

Antes que Hesmar pudesse respirar depois do susto pelo que eu disse em seu ouvido,  ouvimos gritos fora da tenda!

- Larguem-me! Humanos imbecis! E eu que sempre os defendi agora poderia matá-los sem piedade. 

= SOLTEM ELE!

Eu gritei e o soldado que estava na porta da tenda enquanto os outros carregavam os defuntos deu a ordem para soltar o forasteiro. Na baixa entrada da tenda vê-se de primeira mão entrar uma lança com um espeto de um pequeno animal assado. E logo a seguir: Uma majestosa figura abaixando-se para passar na baixa abertura. Era um macho colossal! De corpo esguio e torneado da cor do cobre, vestindo calças de couro fino e macio aderente ao corpo, mostrando o contorno de seu belo corpo. (como se fosse roupas de baixo) botas de cano longo, pesadas, um casaco que parecia ser de uma farda! Peito nu, as lãs jogadas naturalmente sobre seus largos ombros, e seu "tapa-olho".  Ele entrou  na "tenda médica" resmungando:

Lord Dark - Castelvania
- Que exército é esse que não atende a alguém com uma descrição de um comandante? Nem mesmo após eu dizer seu nome? Onde está a Princesa Surya? Me disseram que está ferida. Sou um curandeiro e exijo.... PRINCESA SURYA!!!!!!

Ele parou de falar quando me viu verde até as lãs... Eu corri ao encontro dele e o abracei! Foi meu primeiro amigo depois que eu sai da Floresta! Eu disse emocionada ao vê-lo.

= Onix! Meu amigo!

- Voce não está ferida Princesa! Uma Dríade cuidou de voce? Seus parentes estão aqui? Voce está se alimentando? 

Eram tantas perguntas... Eu tinha tanto para contar... E ainda precisava explicar a Hesmar o que acabara de dizer em seu ouvido. Os soldados falaram!

- Ajoelhe-se diante do Rei! Drow!

- Não preciso me ajoelhar! Eu sou amigo de uma Princesa e não me ajoelhei para ela. Respeito sua Majestade, mas não me ajoelho diante de um humano, mesmo tendo um estranho amor por eles.

~* Não precisa senhor Onix! Estamos em guerra somos todos iguais.

- Assim é bem melhor. Agora me conte como voce está Princesa. Não me esconda nada. E coma esse assado. Deve estar comendo feijão enlatado o tempo todo que solta gases  fedorento.

= Que horror Onix!

Eu comi um pedaço da caça que ele trouxe para mim, e estava começando a contar quando adentrou a tenda com o corpo arqueado parecendo sentir muita dor a Jax... A Dríade que é escrava de Pellor. Pedi a Onix que a curasse. Mas Jax pediu que não fizéssemos nada e que a escutássemos antes que fosse tarde... E mesmo diante de pedidos ela estava decidida a contar... Pediu que não deixássemos ninguém entrar, nem mesmo Pellor... Principalmente Pellor. Depois que fizemos seu pedido ela começou a contar...
.....

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