Quebra do Encanto



Em meio a tudo isso, os soldados do exército do Rei Liano invadiram “Anatólia” novamente falando de um antigo pacto quebrado entre eles e os elfos da floresta de nunca ajudar nenhum dos dois lados. Os Elfos deveriam manter-se neutros aos assuntos das “Ilhas gêmeas” sob o objetivo de vencer uma guerra emocional ou psicológica. Eles não sabiam que Mothar tinha ido até “Anatólia”... Envolvido em um objetivo diferente do que eles haviam imaginado. O Rei Elfo não tinha ido para ajudar ao Rei Hesmar e sim, para resgatar sua filha das mãos do Cardeal. O mesmo Cardeal que fingia ser amigo da Rainha Keren e trouxe toda desgraça na vida dela desde seu nascimento. 


“Com o nascimento da Princesa Keren nasceu o confronto entre as “Ilhas” gerando as disputas muitas vezes sociológicas. Envolvendo o conjunto dos esforços bélicos, ideológicos, comerciais, e incluindo desnecessariamente questões culturais, históricas e antropológicas, oriundas da disputa política de um líder constituído para tal fim que incorporava o espírito agressivo de um povo ofendido. Até que o Rei Áureo arriscou a vida para refazer esse acordo frente à ameaça dos “Atemísios” liderada pelo Cardeal sanguinolento. Tendo em mente que o Cardeal era Honesto. O povo de qualquer uma das partes era manipulado para conseguir obter o seu apoio. 

Aparentando apoio e atenção, sem perder o foco voltado em manter o povo atado e fiel através do medo, o Cardeal ignorava o fato que se tratava apenas da manutenção de sua miserável sobrevivência. Dessa forma ele mantinha o povo calado, passivo, inoperante e gratificado. Mantendo-os temerosos com seu futuro e ignorantes de cultura e informações da verdade, até o dia em que ele incitou o Jovem Príncipe Pellor a começar uma guerra pelas terras e águas ao redor das “Ilhas gêmeas”... Uma mentira dita várias vezes, que acabou se transformando em verdade. Foi quando a filha de Áureo descobriu em si um poder capaz de salvar seu reino e viajou para “Anatólia”. Mas poderia Ela reatar o laço entre as raças e povos a tempo de evitar uma tragédia? Eu não sabia se conseguiria, mas tinha que tentar salvar o reino dos meus ancestrais e por isso fui até meu reino com respaldo legal para desmascarar toda trama armada pelo Cardeal”. 

Continuando sobre o ataque:


Draven que estava se preparando para ser um dos defensores de Pellor abriu a mochila, tirou tudo o que havia dentro dela, procurando um objeto prateado de mais ou menos cinco centímetros que foi entregue a ele por Ônix quando eu fui ferida... Era algo que ele usaria na defesa mas... Antes que terminasse ele percebeu o silêncio em volta, e um leve agitar da água, como se pequenas ondas começassem a se formar. Virou-se para trás, e viu sair do rio o Rei Liano e seus batedores... E logo atrás deles mais uma dezena de soldados... Soldados que agarravam Hesmar como se fosse o tesouro mais precioso do mundo. Jyann não teve dúvida, sacou sua espada que até àquele momento estava oculta no capuz de suas vestes. Partiu para o ataque como se fosse sua última chance, e de resto só viu sangue, não sabia se era dele ou dos soldados tamanha foi a fúria que ele usou contra os atacantes. 

Ele só sabia que precisava salvar seu Rei. Não poderia deixar que o Rei Liano levasse Hesmar. Agora era uma questão de honra. Jyann viu muito sangue... A espada que antes era prateada, agora estava vermelha, banhada de sangue, Jyann tinha diversos cortes pelo corpo, não conseguia abrir um olho, Draven estava um pouco melhor, porque ele usava arco e flecha, mas estava manco de uma perna, com um corte profundo nela, e um medo incrível de ter cortado algum tendão que não permitisse mais a agilidade de um guerreiro, o corte foi provavelmente feito por aquele soldado que o atacou com a fúria de um demônio verde. Já estavam do outro lado da margem do rio, e continuavam andando, andando, como se agarrassem a última oportunidade que a vida lhes dera para salvar seu Rei, ambos sabiam que deviam a Sua Capitã esse salvamento. Mesmo que eu tivesse morrido! Aquilo era um dever de Honra. Os dois nutriam um sentimento a mais, pela Rainha de “Anatólia” Senhora do Castelo, a única Senhora do Castelo, a única Rainha do Sol! A filha de Áureo e “Sunna”. 

Eles nem haviam conseguido me ver pela última vez... Mas lutavam bravamente em meu nome! Numa subida corajosa para o outro lado da margem conseguiram render o Rei Liano e finalmente libertar Hesmar das mãos dos soldados de “Atêmi”. Jyann assim como Draven estavam ensanguentados... Mesmo assim levaram Liano a presença do conselho e o prenderam numa jaula, com diversos soldados a lhe rodear, provavelmente não o atacariam, por não terem ordem e pelo encantamento que o Rei havia recebido da “Deusa Sol”. A Deusa disse a ele que esse encantamento só teria fim quando ele fosse atacado pela mais bela das Moças. Assim que ele olhasse para ela seria seduzido. Essa sedução só seria feita pelas mais belas das moças. A sedução é algo como uma pena caindo, demora, mas cai. 

O Conselho pediu que o deixasse preso até o final do julgamento que seria completado assim que o Rei Hesmar entrasse no recinto. Dentre muitos acusadores e defensores que estavam presente, e que após o acontecido, ouviram a história sobre os quatro irmãos, poucos acharam a palavra certa, para descrever aquele empasse! Pellor era culpado, mas ele estava possuído. Enfim... Nada mais importava, o importante era que Adryel vivia! Todo o resto tinha sido consequência. Já estavam prontos para dar a sentença diante das lágrimas silenciosas de Keren... Quando se materializou diante do Conselho Uma figura cintilante, e desceu levemente diante da guarda poderosa do Rei Hesmar armados de arco e flecha. Todos com arcos esticados e flechas em punho partiram como loucos para cima da figura... Um autêntico Elfo de Luz! Sua densa cabeleira de lãs finas e muito escorridas espalhava-se pelo recinto, herança física dos elfos “Ljosalfr”. Alto e esguio, com pele clara e orelhas pontiagudas rentes ao crânio. Seus olhos amendoados com Iris azul celeste e a retina negra, que costumava ficar mais escura ou mais clara conforme seu humor. As unhas apresentavam coloração negra e em forma de garras, além disso, possuía pequenas presas. Um Ser de beleza impar que assustou a todos, devido sua imponência e sua espada poderosa feita com lâmina de aço inoxidável e chumbo Com a “mão” em obsidiana e carvalho. Éra uma espada élfica de grande poder e descendência real, usada para matar Dragões. 

Com a mão direita sobre sua espada pendendo do lado direito da cintura Mothar levantou a mão esquerda estendida na altura dos olhos e disse:

= Sou Mothar de “Avebury” e venho em missão de paz! Venho comunicar que Surya é minha filha e com a autoridade de pai: Peço que libertem o Príncipe Pellor sem retaliação alguma.

Os soldados afastaram-se de Mothar com gesto de reverência e de condolência. Mothar foi até a cadeira do réu e disse;

= Levanta-te Pellor de “Atêmi” E “Anatólia”! Ponha-te de joelhos.

Pellor levantou-se da cadeira dos réus, ajoelhou-se na frente da esguia figura, abaixou a cabeça. E disse:

- Desculpa-me Majestade! Sou Pellor de “Anatólia” somente.

Mothar falou sem mágoa ou qualquer outro sentimento negro em seu coração: 

= Não querido Príncipe! Voce é Herdeiro de “Atêmi” Porque sua mãe a Rainha Keren é a filha do Rei Viner de "Anatólia"! Com isso voces têm a posse das duas “Ilhas” e não precisam mais de guerra. Eu te absolvo de qualquer culpa.

Quando terminou de dizer isso Mothar bradou a espada sobre a cabeça de Pellor e abaixou sobre seu ombro esquerdo, que para os Elfos é um sinal de amizade. Quando Mothar se virou para ir embora, ao suspender os olhos sobre a cabeça de Pellor que estava se levantando ele gritou:

= CUIDADO HESMAR!


Todos se viraram rápido bem a tempo de ver Liano que estava prestes a degolar Hesmar com sua espada poderosa... Diante do acontecimento da absolvição de Pellor todos se descuidaram de Liano... Mas ele não contava com a reação da Rainha que rápida como um raio Keren avançou deslizando na direção de Liano que já estava arriando a espada com toda fúria contra Hesmar... Keren girou o corpo colocando o pé esquerdo na frente, apoiando-se no direito e girou ficando por baixo do golpe de Liano! Aparando o golpe da espada "poderosa" dele com sua “Vingadora”. E a espada de Liano se partiu diante dos olhos incrédulos dele sem tocar em Hesmar.


Liano falou atônito: 

- Como voce fez isso? Essa era a espada da Rainha Sol...

Keren que acabava de rendê-lo naquele momento não soube responder e Mothar o fez por ela dizendo com um sorriso iluminado:

= Voce foi desarmado pela Rainha de “Atêmi” Liano! Lembra das palavras da Deusa quando te deu a espada?

“O encantamento da sua espada só terá fim quando voce for atacado pela mais bela das Moças. Assim que ela olhar para voce, serás seduzido. A sedução é algo como uma pena caindo, demora, mas cai”.

Voce pode descansar e entregar a coroa a legitima “Keren de Atêmi” LONGA VIDA A RAINHA!

Liano se pôs de joelho e disse:

- Enfim te encontrei Majestade!

- Porque voce estava me procurando Liano de "Atêmi"?

- Porque desde que meu Rei foi assassinado e me colocaram no trono eu a procuro Majestade para que tomes seu lugar. Perdoe-me por não ter sido um bom rei, mas eu era apenas um soldado.

- Tudo bem Liano! Voce fez o melhor que pode.

Enquanto todos ficaram conversando sobre suas terras, seus reinos. Mothar se preparou para partir. Antes que ele se desmaterializasse por completo Adryel perguntou:

= Senhor de “Avebury” e minha irmã?

Mothar abaixou a cabeça e duas lágrimas brotaram quando ele disse:

= Há esta hora já foi feito. Minha filha partiu para o quarto mundo onde os espíritos descansam até o dia de sua volta.

Mothar desapareceu e os três irmãos se abraçaram em silêncio.

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